Thaís Dourado
MIGREI PARA http://hurriedmind.wordpress.com/ !!
ME ACOMPANHEM POR LÁ, tá mais bonitinho, rs.
Thaís Dourado
"Mulher cáuculo, mulher-aritmética, mulher sem sentimento, mulher sem amor, mulher-egoísmo, é um triunfo da matéria sobre o espírito, mais terra do que céu, mais pó do que alma, mais lodo que pureza da eternidade; é a mulher monstro que calunia a mulher criada por Deus: é um assombro que faz-se admirar pela hediondez"

Joaquim Manoel de Macedo
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Thaís Dourado
Correndo.

Os pingos de chuva batiam seu corpo e feriam como estilhaços de vidro. Nada mais importava. Não sabia para onde iria, de onde saira. Não se reconhecia, só sentia aqueles pedacinhos de vidro cortando toda extensão da superfície do seu corpo. Sangrando pelos poros por algo que nunca quis. Esqueça. Não importa.

Corria pela cidade barulhenta e acizentada.
Parou. Bar.

Entrou e pediu:
_ Uma dose do que de mais forte você tiver.

Talvez tenha ouvido o barman dizer algo, o que era muito provavelmente descartável, visto que não conseguiu entender uma palavra sequer. Olhou um pouco para aquele rapaz.

Era um rapaz! Pobre rapaz. Servindo pessoas que ele nunca soube nem saberá quem são. Quem são? Quem era aquela moça que pediu com uma voz tão adocicada e triste algo forte?

Serviu um destilado para a moça e ficou olhando.

Deborah tomou aquilo e sentiu arder, como quando o álcool dança frenticamente em cima de feridas abertas. "You must know what I'm telling about".

Colocou o copo no balcão, sentou-se numa cadeira alta. Olhou o cara que havia servido-a. Ninguém muito interessante... Cabelo legal. Ele deve ter fogo.
_Tem fogo?
E retirou da bolsa de plástico um maço de qualquer coisa. Vazio.

O rapaz alcançou um isqueiro e um maço novo de Lucky Strike.
_Esse é por conta da casa.

Gostou. Mas não importava muito.
_Obrigada.- lembrou-se de agradecer.

Toda sorte de pensamentos flutuavam em sua cabeça. Deborah era alguém a quem você daria título de louca. Loura, cabelos até a cintura, corpo esguio e rosado. Sem pessoas, elas não merecem credibilidade alguma. A mocinha queria ter vindo ao mundo como um ser de espécie diferente. Ou simplesmente não ter vindo.
Vermelho e preto, perdida entre os lençóis de um e outro e dela mesma. De quem?
Entregue a carnalidades, de lábios carnudos e quentes. Mas ela mesma era fria, assim: nuvem carregada. Nuvem livre e pesada. Parecia nuvem.

Mais uma dose daquela coisa.
_ Acende pra mim?

Simpático o rapaz.

Não gostou daquela moça, mas acendeu o cigarro.
Estava mudando de apartamento, e ia se livrar daquele carpete verde musgo que cheirava vômito, esperma e cerveja. Alan saía do bar às 9, troca de funcionários. Eram oito e cinquenta e seis. O tic-tac do relógio não o deixava esquecer. Saiu de trás do balcão com a finalidade de colocar uma música. Qualquer coisa.

_Saio às nove.

Bem direto, hm. Mas Deborah não pretendia nada daquilo hoje. Ainda suas feridas gritavam, abafadas pelo som do lugar. Negro e frio, identificação súbita: a noite era a prometida, a escuridão e os becos eram as damas sujas.
_Acompanho você.

Nove horas. Ele extraiu o avental, pegou dois capacetes, chaves e uma jaqueta de couro meio surrada. Foi retirando-se pela porta da frente.
Deborah terminou um cigarro e foi atrás.

“On the other morning
I checked your smile
Looking at the portrait
I felt my heart was gonna melt down
In you
And you really did it, girl”. Deixaram o bar, que tocava arcano nebuloso.